terça-feira, 15 de abril de 2014

Visões locais: a cultura global de protestos nas reportagens em formato de desenhos

Visões locais: a cultura global de protestos nas reportagens em formato de desenhos

(c) Enrique FloresQuadrinhos, desenhos avulsos ou caricaturas – cada vez mais amídia online é alimentada imagens desenhadas, que reproduzem os protestos globais dos últimos dois anos através de histórias subjetivas.

Testemunhas de diversos protestos: Enrique Flores e Viktoria Lomasko

Artistas podem transmitir seus relatos de forma imediata indo pessoalmente aos protestos, envolvendo-se e produzindo no local a sua documentação em forma de arte: Eles registram o que vêem, sentem e ouvem, para no máximo um dia depois postar online seu registro. É desta forma que trabalham por exemplo Enrique Flores em Madri e Viktoria Lomasko em Moscou.
Passeatas e comícios seguem acontecendo regularmente nas metrópoles da Rússia. Oposicionistas, anarquistas, nacionalistas ou partidários do movmento jovem “Naschi” manifestam suas diversas posições em praças públicas. Em seu projeto de longo prazo “Crônica da Resistência” Viktoria Lomasko vem documentando os atuais protestos em Moscou em toda a sua abrangência. Em seu trabalho, o que mais lhe interessa é como desenhar uma massa em movimento, ou como se pode mostrar o rosto que seria a expressão individual de cada comício.

Viktoria Lomasko
TV SymbolGaleria de imagens de Viktoria Lomasko, Moscou 


Os protestos na Espanha, o "Movimiento 15M", podem estar acontecendo simultaneamente aos que ocorrem na Rússia, mas sua motivação é totalmente diferente. Aqui trata-se de um movimento unido que critica as péssimas condições econômicas e políticas vigentes no país, manifestando a preocupação com o futuro da Espanha através de passeatas e encontros pacíficos e marcados por sua variedade e seu colorido. Enrique Flores tenta não perder nenhuma passeata que acontece em Madri. Suas imagens nascem no local dos protestos, como as de Viktoria Lomasko. Ele descreve seu princípio assim: “Eu tento desenhar o que vejo e registrar o que escuto. Quero ser uma testemunha ocular.”

Enrique Flores
TV SymbolGaleria de imagens de Enrique Flores, Madri

Jornalismo em quadrinhos: desenho-reportagem versus fotografia

A crescente popularidade do desenho-documentário é frequentemente relacionada com a suspeita de manipulação de material fotográfico. A questão que se levanta, se hoje em dia imagens artísticas formuladas a partir de uma percepção subjetiva merecem mais credibilidade do que a fotografia – que por sua vez substituiu a imagem desenhada das notícias desde o inicio do século 20 – foi um dos pontos de partida para a exposição “Tauchfahrten – Zeichnung als Reportage“ (Viagens de mergulho – o desenho como reportagem). Esta exposição foi um importante marco para o gênero desenho-reportagem nos países de língua alemã. Em conexão com ela os organizadores, o artista Alexander Roob e o historiador da arte e curador Clemens Krümmel, fundaram o Instituto Melton Prior, que pesquisa a história internacional do desenho-reportagem.

(c) Edition Moderne/Joe SaccoO norte-americano Joe Sacco é considerado o pioneiro do jornalismo em quadrinhos e desde os anos 90 vem descrevendo as guerras e conflitos em todo o mundo em histórias desenhadas, tais como Palestina: Uma nação ocupada, a segunda parte,Palestina: Na faixa de Gaza e Área de Segurança: Gorazde, sobre o conflito na Bósnia. Sacco, que estudou jornalismo, trabalha como um correspondente. Ele pesquisa histórias, faz entrevistas, colhe observações no local e ... desenha tudo. A constante presença de sua própria figura nos desenhos só vem destacar o filtro de sua percepção subjetiva. Em seu livro Reportagensele chega à conclusão que os quadrinhos, enquanto mídia, são a melhor forma de jornalismo: Os quadrinhos, segundo ele, não permitem que se tente produzir um relato neutro. O autor sempre tem que tomar partido e sua postura se torna então parte da notícia. 

Quadrinhos na rede

O projeto internacional The Cartoon Movement assumiu a tarefa de realizar na internet o trabalho editorial para caricaturas e quadrinhos políticos de qualidade. Na página da internet pode-se encontrar entre outras coisas documentos artísticos que estão desenvolvendo a “Internet-Comic” (quadrinhos para internet). Nestas histórias o usuário pode criar seus próprios caminhos, navegando através das informações – dessa forma, por exemplo, a história Chicago is My Kind of Town(Chicago é meu tipo de cidade) de Luke Rasl retrata os protestos ocorridos na cidade no verão de 2012, durante a conferência de cúpula da OTAN. Métodos de documentação tradicionais como vídeo, foto ou áudio estão criando um novo formato de reportagem totalmente híbrido, a Internet-Comic. Na Alemanha o artista berlinense Bo Soremsky pesquisa como as possiblidades da internet podem ser efetivamente aproveitadas para o desenho-reportagem e como este novo gênero de jornalismo artístico pode ser apresentado.

Talvez o futuro dos quadrinhos políticos e em especial do jornalismo em quadrinhos e do desenho-reportagem esteja na internet, pois eles permitem que os artistas realizem suas reportagens de forma espontânea, subjetiva e independente de qualquer censura. No entanto muitas questões instigantes permanecem sem resposta, por exemplo: como gerar um valor agregado ao processo de criação artística, se o meio utilizado é a internet; ou ainda, como estes trabalhos de alta qualidade podem alcançar a merecida exposição pública em meio a um turbilhão de informações? Quem vai realizar o trabalho de edição? Como as obras de arte publicadas na internet podem ser remuneradas de forma apropriada? Em última instância, o fator “presença” continua sendo determinado pela presença física. Os próprios movimentos de protesto da atualidade demonstram isto. Mesmo sendo organizados na internet e através de redes sociais, são as pessoas que vão para as praças públicas das metrópoles protestar, como se fazia há cem anos, e em meio a elas estão os artistas, para documentar tudo.
Olga Vostretsova,
nascida em Novosibirsk, foi colaboradora do Departamento Cultural do Goethe-Institut de Moscou por muitos anos. Atualmente trabalha na galeria de arte contemporânea em Leipzig. Além disso está cursando o mestrado em Cultura e Curadoria na Escola de Artes Gráficas de Leipzig.Copyright: Goethe-Institut e. V., Redação na internet
Abril de 2013

Retirado de: http://www.goethe.de/kue/lit/prj/com/ccs/csz/pt10814849.htm 

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